29 de julho de 2011

O verão alemão

A maioria dos brasileiros que mora por aqui reclama do verão alemão. Alguns até brincam que em alguns anos de muita sorte, o verão cai num fim de semana. A verdade é que para quem cresceu num pais quente como o Brasil, se acostumar com temperaturas menores que 20° graus e dizer que isso é verão, pode ser mesmo complicado. O que me desagrada muito é a quantidade de chuva que cai nessa época do ano, deixando a sensação térmica ainda menor e me prendendo aqui dentro do apartamento. Então, verão por aqui exige que você tenha sempre em mãos um guarda-chuva e um pullover.

Tem dias que dá até para ter a sensação que vai se derreter de calor, mas isso é bem mais próximo do "quase nunca" do que do "frequentemente". Eu, amante incondicional do calor, já reclamei muito do clima daqui, mas acabei me acostumando (me lembrem disso quando o inverno chegar e a neve começar a cair sem parar!). Hoje me sinto feliz com a temperatura próxima dos 15° graus principalmente quando ela vem junto com o sol.

E a mais importante lição que o verão alemão tem me ensinado: carpe diem. Não dá pra ver o sol brilhar lá fora e acreditar que ele vai estar lá no restante do verão. Não dá para olhar no termômetro, ver uns 18° e deixar para usar aquele vestido lindo que está guardado há séculos no guarda roupa esperando que faca 30° graus. É preciso aproveitar o dia, regarrecar as baterias, caminhar e liberar endorfina, tomar aquele sorvete italiano, olhar vitrines, ir brincar no parquinho, visitar amigos, passear no lago e agradecer pela oportunidade de receber mais um dia de sol que pode ser último do ano.

Hoje o sol tá brilhando lá fora, mas convencer o Miguel a me acompanhar num passeio pode ser uma peleja. Ele ainda não aprendeu o verdadeiro sentido de aproveitar o dia, está mais para curtir uma preguiça junto com seus brinquedos favoritos. O que me alegra é que, segundo a previsão, o sol deve aparecer também amanha e no domingo (oba! oba! oba!), depois de uma semana inteira de chuva. Então, só nos resta aproveitar enquanto ainda temos chance, mesmo que esse verão não tenha a menor cara de verão... E olha que as vitrines com os lançamentos do outono não me deixam mentir e anunciam com botas e casacos que daqui a pouco o verão vai ser vorbei (passado).

25 de julho de 2011

Tudo misturado


Miguel atravessando a rua:
" Rot para.
Los gehts! Grün pode."

Traduzindo: (Vermelho para. Vamos! Verde pode.)


Deu pra perceber que tá tudo misturado dentro da cabeça dele? Agora imagina o quanto é complicado para a mamãe aqui entender a salada de línguas que ele faz. :)

22 de julho de 2011

Afinal, para que serve uma Hebamme?

A Beth me pediu para fazer um post explicando o que é uma Hebamme e apesar da demora o post finalmente vai sair. Aqui na Alemanha é normal que uma Hebamme, traduzindo parteira ou doula, acompanhe a gravidez e que ajude no pós- parto. Ela orienta a gestante em tudo o que diz respeito a gravidez e cuidados com o bebê. Além disso, é ela quem vai fazer o parto, caso a gestante escolha ter um parto natural. Aqui do lado da minha casa, existe uma clínica de Hebammes onde elas dão cursos de preparo para os futuros pais, ginástica para gravidas, massagens para bebês, natação para bebês e onde elas realizam partos.

A atmosfera é deliciosa e foi lá que eu escolhi a minha Hebamme, porém eu optei por não ter o Davi lá, já que não passou pela minha cabeça ter um parto natural, sem anestesia e sem a menor chance de mudar de ideia no meio do caminho. Nesse tipo de clínica não há acompanhamento de um médico e em caso de emergência ou necessidade de uma intervenção cirúrgica, a mãe é encaminhada a um hospital.

Como eu optei por ter o Davi no hospital, tive o acompanhamento das Hebammes de lá. Elas trabalham em turno de 8 horas, então passei por várias delas e sai de lá imensamente satisfeita. Elas foram extremamentes atenciosas, competentes, carinhosas e me ajudaram muito nos 3 dias que estive internada. Depois de sair do hospital, recebi a visita da Hebamme que eu escolhi, por 15 dias. Ela me orientou sobre os cuidados que eu deveria ter com a minha cirurgia, amamentação, me indicou alguns produtos e fez o controle do peso do Davi. Até me ofereceu para dar o primeiro banho, mas eu não achei que fosse necessário.

Abrindo um parênteses sobre o banho, eu fiquei cheia de preconceitos quando soube que aqui eles só davam banho nos bebês depois que o umbigo caísse. Bati o pé que seria do meu jeito e que o Davi não passaria 7 dias ou mais sem tomar banho. Eles dão banho com um paninho molhado e pronto e eu achava isso um absurdo. Fiz do jeito alemão e simplesmente adorei. Aprovei mais ainda depois que o umbigo do Davi caiu no terceiro dia, coisa que até então eu nunca tinha ouvido falar. Mais uma vez, tirei a lição que preconceito não está com nada e que vale a pena se abrir para o novo, afinal o diferente não tem que ser necessariamente ruim.

A Hebamme pode acompanhar a mãe e o bebê nos primeiros meses, até o desmame caso seja necessário e o melhor é que tudo é coberto pelo plano de saúde. Eu lamento que no Brasil, receber um acompanhamento desses seja um luxo para poucos. Ter alguém para te ajudar e orientar, principalmente nos primeiros dias com o bebê, que as vezes podem ser extremamente fadigantes, pode fazer toda a diferença e é um direito que toda mãe merecia ter.

Se quiser ver algumas fotos de uma clinica de Hebammes, entre no site: http://www.shebammenhaus.de/cms/show_galerie.php?kat=605

19 de julho de 2011

Para o Davi com todo amor do mundo!

Meu filho amado,
Hoje você completa seu primeiro mês de vida e eu só queria dizer o quanto você tem nos feito feliz. Você chegou na hora certa, vindo preencher o buraquinho que faltava nessa família; um presente que o Papai do Céu mandou, resposta das nossas oracoes. Filho, que sua vida seja repleta de bencaos; que você cresça em estatura, sabedoria, conhecimento e que esteja sempre no centro da vontade do nosso Pai Celestial! A mamãe te ama muito e a cada dia vê esse amor crescer e se fortalecer. Parabéns, meu pequeno príncipe!

14 de julho de 2011

Quase um mês depois...

Todas as mães sofrem do mesmo mal: a gente esquece todas as dificuldades da gravidez e os perrengues dos primeiros meses de um bebê. Graças a Deus, pois se fosse de outra forma o mundo estaria vazio, pois ninguém teria mais que um filho. Piadinhas de lado, não estou reclamando da minha situação, por mais caótica que ela fique em alguns momentos. Sou agradecida a Deus pelos meus dois presentes, mas confesso: não tenho tempo para absolutamente nada e ainda estou aprendendo a ser mãe de dois filhos. Me divido entre os cuidados com meus dois pequenos e vou fazendo o resto das coisas a medida que os dois permitem. O problema é que eles não permitem, então nem tentem imaginar o caos que virou minha casa ou a triste situação do meu cabelo que não vê um secador há dias.

O Davi está crescendo e engordando num ritmo acelerado. Tirando as cólicas que já chegaram, ele segue bem. Por falar nisso, alguém tem uma receita "tiro e queda" pra aliviar as cólicas? Mesmo sendo um nenem tranquilo, ele dá todo aquele trabalho que todo bebê dá: mama a cada 3 horas, suja incontáveis fraldas por dia, precisa arrotar e leva um tempao para isso e já aprendeu que o colo da mamãe é o melhor lugar desse mundo e não quer mais sair de lá. O Miguel também tem crescido muito com o novo irmaozinho. Sinto ele mais maduro e as crises de ciumes passaram, pelo menos por enquanto. Mostramos pra ele o tempo todo que o Davi exige alguns cuidados por que é um bebê e que ele já é o homenzinho da casa e que ser grande é super legal. Tem funcionado bem.

Eu estou me recuperando bem. Claro que eu queria acelerar algumas coisas, mas entendo que o melhor agora é seguir devagar para garantir que tudo volte ao normal no tempo certo. Estou em débito com muitos amigos; não consigo visitar, nem comentar nos blogs; não consigo responder emails e nem dar telefonemas. Tenho tantas coisas para compartilhar, tanto para dividir, mas nesse momento preciso aprender e me adaptar a minha nova vida. Não é fácil descobrir o novo ritmo e como eu disse tudo vai acontecer no momento certo que nem sempre é na hora que eu gostaria que acontecesse.

4 de julho de 2011

O parto

Minha bolsa rompeu no dia 18/06 às 08 da manha, exatamente quando completei 39 semanas. Foi uma sensação maravilhosa, primeiro por que eu não sentia dor nenhuma e por que sabia que logo estaria com meu filho nos braços. Organizei tudo o que tinha que fazer em casa, como me indicaram, e só então fomos para o hospital. Ao chegar lá, monitoraram o coração do Davi, fizeram um ultrassom e me colocaram de repouso absoluto por que ele não estava encaixado para o parto normal. Eu tinha apenas 2 cm de dilatação e ainda não sentia nada.

As dores começaram por volta da 2 da tarde e já chegaram bem fortes. Me perguntaram se eu queria tomar a anestesia e eu questionei se ela valeria para todo o parto e me disseram que sim, então nem pensei duas vezes e disse que queria. Tomei a anestesia por volta das 17 horas e não senti alivio nenhum nas dores. Por volta das 21 horas a dor ficou insuportável e eu questionei por que a anestesia não fazia efeito. Chamaram a anestesista que aumentou a dose, mas continuou não fazendo efeito algum e para completar eu tinha apenas 4 cm de dilatação.

Eu tinha mais ou menos de 5 a 6 contracoes em 10 minutos e todas muito fortes. Como as minhas contracoes vinham a cada minuto, eu não tinha tempo nem para respirar. Foi então que eu pensei, repensei, avaliei o sofrimento que eu estava sentindo e calculei que passaria por isso por pelo menos mais 6 horas, pois, geralmente, a cada hora se dilata 1 cm. Já havia se passado 15 horas desde que a bolsa tinha rompido e eu não tinha nem a metade da dilatação necessária e só tinha uma certeza: a peridural não funcionaria, então o restante das horas seria de mais dor. Foi ai que pedi por uma cesárea.

Pedi que chamassem a médica e disse que era minha vontade, mas ela não aceitou muito bem. Disse que eu deveria continuar a tentar o parto normal. Eu bati o pé e disse que não queria mais, que já não tinha forcas. Logo, logo a sala encheu de médicos tentando me convencer dos benefícios que o parto normal tem, mas eu me mantive firme. O obstetra então disse que não via necessidade na operação e eu disse que eu via já que era a minha vontade. Dai eles desistiram de tentar me convencer e a contra gosto e caras amarradas fizeram a cesária. Antes leram um monte de papeis com o risco que eu corria e todas as coisas ruins que poderia acontecer durante o parto.

Ainda assim não foi fácil. Uma das horas mais difíceis que que eu me lembro, foi a aplicação da anestesia espinhal. É sempre difícil a aplicação da anestesia em mim e os médicos acabam levando mais tempo que o normal. Eu não podia me mexer, tinha que ajudar forcando as costas para baixo e tinha contracoes fortíssimas que já não me davam 1 minuto de alivio. Mas, logo passou e o Davi nasceu esbanjando saúde, graças a Deus. O que eu sei é que seja normal ou cesária, parto dói muito, muito mesmo.

O que eu percebi é que aqui e no Brasil falta um equilíbrio por parte dos médicos. No Brasil há uma indicação exagerada por cesárea e aqui há uma forcacao exagerada pelo parto normal. Por exemplo, minha companheira de quarto teve 32 horas de trabalho de parto (e ela já tinha 6 cm de dilatacao) e no final precisou de 4 médicos em cima dela que já não tinha forcas para colocar o nenem pra fora, teve que fazer uma episiotomia e o parto teve que ser a vácuo. Tudo bem que a recuperação foi muito rápida, mas e o trauma que fica?

Eu não me arrependo de ter feito a cesária, por que eu realmente já não tinha forcas para encarar mais dores. Como eu já tinha feito uma no Brasil, sabia ao certo o que me esperava e por nem um segundo fiquei enganada que depois seria fácil. E é isso que indico às gravidas. Conhecimento nunca é demais. Pesquisem bastante todos os tipos de parto, esclareça todas as dúvidas com seu médico e não tenha medo de impor sua vontade quando necessário. Pense no que é melhor pra você e sua família e saiba que nem sempre o que é melhor para o outro vai ser melhor pra você também.

Algumas pessoas me olham torto até hoje quando explico o porque da opção pela cirurgia, mas quer saber, não me sinto fraca, nem irresponsável. Pelo contrário, me sinto corajosa por ter tentado e por ter ido até o meu limite e por ter tido forcas para reconhecer e impor minha vontade. Naquele momento eu pensei no meu bem estar e no bem estar do Davi e tenho certeza que a cesária não causou dano algum na saúde dele. Para mim isso é o mais importante. Agora depois dessa aventura, uma verdade ficou ainda mais forte pra mim: a família está definitivamente completa e não venham me falar que falta uma menina pra equilibrar, viu?

1 de julho de 2011

Por aqui...

Ando numa alegria danada e confesso que estou babando horrores em cima do Davi. Ele é o bebê mais tranquilo, guloso e dorminhoco que eu já conheci, pelo menos por enquanto, e a gente fica na torcida que seja assim por bastante tempo. Quase não me dá trabalho, apesar das intermináveis trocas de fralda. Dorme feito um anjo e posso contar nos dedos os dias que ouvi o chorinho dele. E para ninguém dizer que isso é conversa de mae coruja, até a Hebamme que me visita e acompanha o desenvolvimento dele disse que ele é um bebê impressionante.

Por aqui tudo vai bem, melhor do que esperávamos. Claro que a adaptação não tem sido fácil, mas a gente já previa dias complicados e percebe que pouco a pouco as coisas parecem ir se ajeitando. O Bebeto tirou duas semanas de férias para me ajudar nesses primeiros dias, já que precisava fazer repouso e pegar leve para me recuperar da cirurgia. Eu tenho me recuperado bem. Passei a primeira semana praticamente na cama, fazendo pequenas caminhadas pela casa e essa semana já tenho passeado na rua e aos poucos (passos de bebê) retomado a rotina.

O Miguel deu muito trabalho pra gente desde o dia que fui para o hospital. Ficou extremamente agitado, não queria dormir, nem comer, nem sair na porta de casa. Agora ele está mais calmo e também tem retomado a rotina. É incrível a sensibilidade de uma criança ao receber um novo irmão, o medo de perder a mãe e o sofrimento em ter que aprender a dividir a atenção e todo o resto.

Os dias vão passando e a gente vai aprendendo a lidar com as mudanças, descobrindo novas coisas, novos caminhos. A chegada de um bebê muda completamente a rotina da casa, principalmente quando já se tem outra criança. É preciso um jogo de cintura danado, uma dose dobrada de paciência e muita compreensão e carinho com os outros e com a gente mesmo, afinal é um período de adaptação para a família toda. Fácil nao é, mas com Deus à frente a gente vai tirar isso de letra. :)